Por conta da pandemia do novo coronavírus, houve uma redução de até 90% de exames que deveriam ser oferecidos em hospitais. Pacientes oncológicos, gestantes e doentes crônicos não estão sendo atendidos. Os dados são de um levantamento das Sociedades Brasileiras de Cirurgia Oncológica e de Patologia.

No país, entre os meses de março e maio, ao menos 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer, outros milhares de pacientes, já com o tumor detectado, tiveram os tratamentos suspensos. Só em abril, cerca de 70% das cirurgias de câncer foram adiadas.

O médico oncologista da Oncolog, André Crepaldi, analisa a gravidade dessa situação e o temor da classe médica pelo paciente, que ao atrasar um tratamento pode levar ao desenvolvimento de um câncer mais avançado e difícil de curar.

“Se tem realmente uma suspeita diagnóstica, essa investigação deve seguir sem atrasos, com todos os cuidados recomendados e buscando locais de referência e com fluxos para tratamento de Covid-19 bem estabelecidos, principalmente durante os exames de diagnósticos e de biópsias. Os tratamentos em si não devem ser adiados. Em casos de pacientes com tumores com evolução lenta, desde que em conversa com o médico, pode ter alguns exames adiados, o que vai prolongar um pouco mais o tratamento da doença, mas pode ser feito”, orienta Crepaldi.

Em São Paulo, durante os meses de março a maio, foram feitas 5.940 biópsias na rede pública. No mesmo período do ano passado, foram 22.680 biópsias. Segundo André Crepaldi, esses dados da Sociedade Brasileira de Patologia e de Cirurgia Oncológica refletem os cancelamentos de procedimentos não urgentes, como exames, consultas e cirurgias; e a recusa de pacientes com outras doenças ou sintomas em procurar um hospital ou clínica por medo de pegarem o coronavírus.

“O diagnóstico de câncer não pode esperar. Os riscos de um diagnóstico tardio são enormes. Procedimentos também estão sendo adiados por recusa de pacientes em ir ao hospital e por cancelamentos de procedimentos não urgentes. É preciso haver um equilíbrio entre o medo do vírus e o risco iminente de outras doenças”, afirma o especialista.

O oncologista afirma que as consultas para indivíduos em tratamento com quimioterapia devem ser mantidas. Já pacientes que estejam com quadro sintomático de coronavírus precisam de auxílio médico para definir a urgência do tratamento contra o câncer. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica orienta os pacientes oncológicos da seguinte forma:

Não interrompa os tratamentos oncológicos;

Evitar contatos físicos;

Evitar contato com qualquer pessoa que tenha sintomas virais;

Evitar contato com pessoas que estejam chegando do exterior;

No hospital:

Evitar contato físico, mesmo com o médico e equipe de saúde;

Evitar ambientes fechados e, principalmente, aglomerações;

Pacientes que vão a um centro de tratamento oncológico devem ir acompanhados de apenas uma pessoas, e este acompanhante não pode apresentar nenhum sintoma de gripe;

Visitas hospitalares devem se restringir àquelas estritamente necessárias.