Antes da pandemia da covid-19, o maior medo dos brasileiros era ser diagnosticado com câncer. Fernanda Peres de Figueiredo entrou em pânico quando descobriu um tumor maligno na mama e buscou acompanhamento psicológico desde antes do início do tratamento da doença. Com apenas 39 anos, casada e com uma filha adolescente, seu maior medo foi a iminência da morte.

Especialistas apontam que o medo da doença tem várias razões, mas a principal delas é o mito de que o câncer é uma sentença de morte. No entanto, graças ao avanço da medicina, as chances de cura do câncer de mama é de até 95% se diagnosticado nos estágios iniciais.

“Foi meu primeiro pensamento, o de que iria morrer. Quando recebi o diagnóstico, nem ouvia o que o médico falava em seguida. Ele explicou o tratamento e eu não me lembro de nada. Só pensava em tudo que poderia acontecer”, conta Fernanda.

“São crenças que a maioria de nós carrega desde criança, de que ter câncer significa a morte, porque desde muito cedo ouvimos histórias de familiares e pessoas conhecidas que morreram da doença. Hoje percebemos o mundo com crenças defasadas, vindas da mãe, avó e bisavó, chegou a hora de largar essas malas de lado e seguir emocionalmente livre”, explica a psicóloga oncológica da Oncolog, Marilucia Santin.

Além da perda da vida, outros medos assombram os pacientes de câncer, como a perda do corpo sadio, de um órgão, do cabelo, da autonomia, perda do espaço na família, do amor do parceiro ou cônjuge, perda da capacidade de trabalho, e especialmente o medo da dependência.

“O paciente com câncer também tem outra grande dificuldade emocional que é o de se deixar cuidar. O ser cuidado para muitas pessoas é muito difícil. O medo da dependência é muito grande”, explica Marilucia.

Junto com as conquistas no tratamento, o atendimento ao paciente de câncer foi ampliado, agregando equipe multidisciplinar composta por profissionais como enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, psicólogos e nutricionistas. Todos eles atuam para que a vida durante o tratamento seja a mais confortável e normal possível. A Psico-oncologia oferece apoio terapêutico diante ao impacto do diagnóstico, suporte emocional durante as etapas do tratamento, além de mostrar possibilidades para o melhor enfrentamento, qualidade de vida do paciente e seus familiares.

A pessoa é chamada a ter um olhar mais carinhoso para si mesmo. “Mostramos que se deve aproveitar o momento para ressignificar a vida. Parar e olhar para si mesmo. Perguntar: o que a doença veio trazer para mim?”, explica Marilucia. A doença é um pedido de socorro do corpo para mudanças emocionais. É como o corpo dizendo, ‘olha o que você fez até agora. Não deu certo. É preciso mudar e entender que a doença é o esforço que a natureza encontra para salvar o corpo.”

Embora o acompanhamento psicológico seja recomendado para todos os pacientes com câncer, são as mulheres, quase sempre em tratamento de câncer de mama, que mais buscam o atendimento.

Segundo a psicóloga, para aqueles que procuram auxílio emocional os resultados de melhora no astral são impressionantes. Foi o que aconteceu com Fernanda Peres de Figueiredo, que buscou o acompanhamento psicológico antes mesmo de começar o tratamento quimioterápico.

“Estava com a cabeça só nisso até que cheguei a um ponto em que vi que precisava de ajuda, procurei auxílio psicológico e tem sido excelente. Posso falar com alguém sobre o que sinto à vontade, meus medos, e ver tudo que acontece sob outra perspectiva. Poder falar sobre a doença é muito bom, é um grande auxílio”, diz.

Ela conta que um dos momentos mais difíceis foi quando soube que a quimioterapia era do tipo que causaria a queda dos cabelos. Passado o susto, antes de começar, cortou os longos cabelos e doou para confecção perucas para outras mulheres em tratamento. Hoje, na fase final da quimio ela exibe a “careca” com orgulho e humor.

Com um excelente prognóstico, após cirurgia e algumas sessões quimioterapia, Fernanda está chegando em um dos momentos cruciais emocionalmente para o paciente de câncer. O primeiro é a descoberta da doença, o outro é o fim da quimioterapia quando se encerra um ciclo. Na última sessão é realizado uma espécie de ritual, com o tocar de um sino para marcar o momento. “O fim da quimio é outro medo do paciente, porque enquanto está fazendo o tratamento ele tem garantias de que algo está agindo no corpo. Mas, com o fim da quimio o que acontece?”, explica Marilucia Santin.

Além das orientações dos médicos e demais profissionais da equipe multidisciplinar, com aconselhamentos sobre alimentação e necessidade de atividades físicas, por exemplo, o momento pede que a pessoa tenha confiança em si, tenha novos hábitos de vida e passe a cuidar melhor de si após ter aprendido a ser cuidado.