A obesidade é uma doença prevalente na sociedade e tem sido associada a várias doenças graves como diabetes, hipertensão, doenças mentais, osteoartrite e doenças cerebrovasculares. Além disso, há evidências crescentes de que a obesidade aumente o risco de malignidades hematológicas e de tumores sólidos como, por exemplo, câncer de mama, cólon e reto, esôfago, estômago, vesícula biliar, útero, pâncreas, ovário e outros.
A obesidade quase triplicou no mundo desde 1975, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Se o crescimento continuar neste ritmo, prevê-se que até 2025, 2,7 bilhões de adultos estarão acima do peso, mais de 1 bilhão serão obesos e 177 milhões serão extremamente obesos. Até 2030, 38% da população adulta estará acima do peso e 20% serão obesos.
No mundo se estima que tumores atribuídos à obesidade sejam entre 4 a 8% de todos os cânceres com variações de 1% em países de baixa renda e 8% em países de alta renda. Nos Estados Unidos, estima-se que novos casos de tumores ligados à obesidade em homens sejam 4,7% e nas mulheres 9,6%. Todavia existem tumores com associações muito fortes à obesidade, como tumores de fígado e vesícula biliar (50%) e endométrio (49%).
Entender a fisiopatologia entre obesidade e câncer é muito complexa e ainda não compreendida. Existem três mecanismos propostos como risco de desenvolver malignidade. O primeiro se refere às células de gordura (adipócitos) que produzem mediadores químicos, especificamente no caso da aromatase, que é uma enzima que aumenta a produção de estrogênio que eleva o risco de tumores de mama, endométrio e ovário.
O segundo mecanismo é em relação ao aumento de insulina no sangue, que está ligada ao metabolismo do crescimento celular, além da resistência insulínica que precede o diabetes tipo 2, levando ao risco aumentado de tumores de cólon, rim, próstata e endométrio. O terceiro mecanismo diz respeito ao ambiente pró-inflamatório cultivado pela secreção de hormônios polipeptídicos vindo das células de gordura. No caso específico, a leptina é um potente agente inflamatório que estimula o crescimento celular e inibe a morte de células defeituosas.
O excesso de peso leva a uma produção aumentada de interleucina 6, TNF alfa e proteína C reativa criando um ambiente cronicamente inflamatório. Sabe-se também que pacientes que experimentam aumento de peso após diagnóstico de câncer têm um risco aumentado de recidivas ou persistência da doença. Por outro lado, estudos que avaliaram fazer atividade física e perder peso, além de dietas adequadas durante e após a quimioterapia, levaram a uma melhor sobrevida livre de doença.
Por fim, estamos diante de um grande problema de saúde pública com consequências físicas, mentais e financeiras extremamente impactantes. Diante do que é esperado para o futuro, é necessária uma ampla política de atenção a essa doença. Apesar dos avanços na saúde não escaparemos do velho aforisma: alimentação saudável e atividade física regular.
Rafael Sodré de Aragão – Cirurgião Oncológico e Cirurgião Geral do Hospital de Câncer de MT e Oncolog