A invasão dos cigarros eletrônicos vem reacendendo a discussão em como enfrentar o tabagismo principalmente entre mais jovens. Disfarçados por uma infinidade de sabores e aromas, os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) também podem fazer muito mal. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam que possuem substâncias tóxicas além da nicotina.
Como os cigarros eletrônicos também podem causar doenças respiratórias, como enfisema pulmonar, doenças cardiovasculares, dermatite e até câncer, eles precisam ser lembrados em campanhas como o Agosto Branco que busca a conscientizar sobre o câncer de pulmão. Esta é a opinião do cirurgião torácico Marcelo Borges, que afirma que uma das consequências mais comuns é a pneumonite química.
“As estatísticas mostram que os usuários dessa nova tecnologia de tabagismo começam com jovens de 18 a 20 anos ou até menos, a gente fica assustado”, explica o cirurgião que atende na clínica Oncolog, em Cuiabá. “Eu mesmo já tive contato com adolescentes de 13, 14 anos com a ideia equivocada de que o uso desses aparelhos é menos maléfico aos pulmões do que as outras formas de tabagismo”, complementa informando que o câncer de pulmão é o terceiro tipo de câncer mais frequente entre homens e o quinto mais comum entre mulheres em todo o mundo.
Enquanto o consumo do cigarro comum caiu pela metade nos últimos 30 anos, o mercado dos cigarros eletrônicos vem crescendo ano a ano. O especialista frisa que as indústrias colocam sabores agradáveis como de frutas, para atrair o público mais jovem, que tem um paladar mais facilmente aguçado para esse tipo de sabor.
“O cigarro contém um líquido que, ao ser aquecido, gera o vapor que é aspirado e exalado pelo usuário. Basicamente, é uma forma de reinvenção da indústria do tabagismo. Nós já sabemos inclusive casos de pessoas que desenvolveram algumas doenças pulmonares por conta do uso do cigarro eletrônico e narguilé. Já sabemos o quanto o cigarro eletrônico é um grande provocador de pneumonite química relacionado a reação química provocada pela fumaça eletrônica e o narguilé ele é cinco vezes potencialmente mais maléficos pulmões do que um cigarro comum”, afirma.
O médico pontua que metade das pessoas que fumam vão morrer em decorrência do vício. “Metade das pessoas que fumam vão morrer por causa de alguma consequência relacionada ao tabagismo. Isso, se comparado a uma roleta russa, seria uma roleta russa com três balas, é uma estatística extremamente assustadora”.
Vitória contra câncer
Embora o fumo seja o principal fator, não é o único. Cerca de dez por cento dos casos acontecem em pessoas que nunca acenderam um cigarro. Foi que aconteceu com a médica veterinária Angelita Dociatti Strital, de 43 anos. Ela passou por oito quimioterapia até vencer o câncer.
“O médico me questionou se eu já tinha fumado. Mas nunca fumei. Sempre fui uma pessoa muito saudável. Me alimento bem. Como muita fruta, verdura e sempre pratiquei esportes. Nunca tive problemas com excesso de peso, sempre fui muito magra até porque é genética mesmo”, detalha.
Após muitos exames foi diagnosticada com Linfoma de Malt. Esse linfoma, mais comum no sistema gástrico, também pode surgir no pulmão. “Comecei o tratamento com oito sessões de quimioterapia, fiquei careca, perdi os pelos da sobrancelha e muito peso. Os meus filhos e o meu marido estavam muito mais abalados do que eu. Então eu entendi que se eu me entregasse ou se eu fosse fraca eles iriam cair”, conta.
“A minha imunidade baixou muito e precisei ficar na UTI por uns dias. A minha última quimioterapia foi dia 28 de dezembro passado, ainda no período de pandemia e deu tudo certo”, comemora.